A FAB E OS CAÇADORES DE MIDIA

 

Vinte e sete de Setembro de 2001. Um Hércules C130 da Força Aérea Brasileira chocou-se com a Pedra do Elefante (420 m.), no Parque Estadual da Serra da Tiririca ( entre Niterói e Maricá). Como resultado, sessenta toneladas de destroços valendo 13 milhões de dólares e 9 oficiais mortos. As causas do acidente estão sob investigação pela FAB. Este é o resumo de uma tragédia.

 

Enterrados os mortos, iniciou-se um meticuloso trabalho de remoção dos destroços, uma práxis em qualquer acidente aéreo. O Coronel Aviador Carlos de Barros, comandante da operação, preocupado com os desdobramentos ambientais da tragédia, encaminhou ofício ao Instituto Estadual de Florestas – IEF-RJ (gestor do Parque), em princípio de Outubro, objetivando autorização para desmatar uma área de cerca de 200 m2.  A limpeza desta área facilitaria a delicada operação de um helicóptero nos trabalhos de remoção dos destroços. O IEF-RJ até o presente momento não respondeu ao ofício.

 

Com a omissão do IEF-RJ e em respeito às instituições, o Coronel Barros acionou uma estratégia alternativa para remoção dos destroços. Estes seriam carregados, manualmente, até outro ponto, onde o helicóptero podia operar, sem a necessidade de supressão da vegetação. Os trabalhos de limpeza já estão quase terminados, o que ocupou grande número de pessoas e quase dois meses de trabalho. 

 

Enquanto a mídia reportava sobre a possibilidade de ajuizamento de Ação contra a FAB, o Ministério Público instaurava inquérito para apurar os danos ambientais. Na internet alardearam que a FAB promovia grande desmatamento no Parque, deixando preocupada a comunidade ambientalista. Populares por sua vez comentavam todo tipo de boato: desde o avião estar transportando armamento pesado até vazamento nuclear, em conseqüência do transporte de ogivas.

 

Dia 16 de Novembro a ONG Protetores da Floresta, juntamente com o Projeto Ecoando, realizaram uma inspeção na área do acidente, acompanhado do Coronel Barros, comandante da operação, e outros oficiais da FAB.

 

Não há como negar que houve dano à vegetação do Parque e a FAB em nenhum momento deixa de reconhecer tal fato. Foram constatados dois pontos principais:

 

1)     Próximo do ponto de colisão, na face voltada para a enseada do Bananal, houve a supressão da vegetação pelas equipes de resgate, com cerca de 200 m2, consistindo numas palmeiras e vegetação arbustiva. Tal remoção visava facilitar a operação do helicóptero. Neste ponto, segundo o Engenheiro Florestal Álvaro Machado, que acompanhou a inspeção, o solo que se encontra exposto, está preso a um emaranhado de raízes, o que dificultaria um processo de erosão. E pela ação da natureza, brevemente a área estará novamente coberta, o que não invalida a reposição de espécies nativas, por exemplo, frutíferas, que enriqueceriam o ecossistema como um todo; 

2)     Noutra área, local para onde a aeronave foi arremessada após a colisão, voltada para Itaipuaçú, com área em torno de  300m2, objeto da solicitada autorização para desmatamento, houve a derrubada de algumas árvores de pequeno e médio porte, pela ação da queda da aeronave, e outras foram  apenas danificadas, e encontram-se vivas. Uma trilha foi aberta para chegar a esta área. Recomenda-se seu fechamento após a finalização dos trabalhos. Nesta área, ainda, verificou-se  marcas de fogo, seguramente ocorrido no dia do acidente, mas que devido às condições meteorológicas, não alastrou. Nesta área, igualmente, a natureza aliada ao tempo tomará suas providências na recomposição da vegetação, o que não invalida o replantio de algumas mudas de árvores.

 

Considerando-se o tamanho da aeronave, peso e aceleração na hora do impacto, pode-se concluir que o  dano causado à vegetação do Parque foi mínima. Contudo, é do nosso entendimento, que o impacto causado pelo número de pessoas/dias envolvidas na operação de carregamento dos destroços até o ponto em que o helicóptero içava a carga, foi bem maior do que teria sido o desmatamento, cuja  autorização foi solicitada pela FAB ao IEF-RJ, e que não obteve qualquer resposta. Tivesse sido autorizado, os trabalhos de remoção dos destroços já estariam concluídos e todo o aparato para lá deslocado já teria sido removido, diminuindo a presença humana permanente em área objeto de conservação. E as áreas degradadas, inclusive a que foi objeto do pedido de autorização de desmatamento, já estariam liberadas para recuperação a mais tempo.

 

Ou seja, o IEF-RJ, gestor do Parque, além de omitir-se em suas atribuições, em nenhum momento designou pessoal para acompanhar, orientar e fiscalizar as operações de remoção dos destroços, o que poderia ter facilitado de sobremaneira os trabalhos da FAB e minimizados os impactos no Parque. Resta-nos contudo a esperança de que o IEF-RJ pelo menos participe dos trabalhos de recomposição da área degradada, fornecendo mudas apropriadas. A mão-de-obra necessária para o replantio será fornecida pelas ONGs com larga experiência nesta lida.

 

Não fosse tudo, quase dois meses depois do acidente, em 12-11-2001, o IEF-RJ lavrou Auto de Constatação, assinado pelo administrador do Parque, o Sr. Ronaldo de Souza, por desmatamento, abertura de trilhas e clareiras, numa área de 3000 m2 (aproximadamente). É curiosa a postura do IEF-RJ, que não responde uma solicitação da FAB, mas autua por danos que não conferem com a realidade.

 

A quem interessa tanta omissão do IEF-RJ? Enquanto aguardamos respostas, expressamos nossas mais sinceras condolências às viúvas e órfãos dos oficiais mortos no acidente, e sugerimos que no local seja erigido um memorial em sua homenagem. E aos caçadores de mídia deixamos a pergunta: A quem interessa denegrir a imagem da FAB?